Eis um vídeo que data do tempo de meu antigo canal no YouTube, Pan-Eslavo Brasil: um manual sobre o alfabeto cirílico usado pela língua sérvia, um idioma eslavo meridional. O alfabeto cirílico sérvio é mais fácil do que seu equivalente russo, mas razoavelmente diferente, por isso ele não deve ser usado diretamente pra decalcar o segundo. Uma das vantagens é que ele é totalmente fonético, e seus sons, absolutamente previsíveis, muito parecidos com os do português e, portanto, facilmente reproduzíveis por (sobretudo) um brasileiro. De fato, as línguas eslavas meridionais são fonética e gramaticalmente mais simples do que as eslavas orientais (russo, bielo-russo e ucraniano), e soam muito bonito.
Tentei dar uma explicação bem didática, fácil de entender, sem renunciar a conceitos mais complexos que ajudassem a sistematizar melhor o conteúdo. Por exemplo, ao lado de exemplos do português (brasileiro), inglês e outras línguas ocidentais, uso muito o alfabeto fonético internacional (IPA), que padroniza a simbologia fonológica. Cada fonema é indicado entre barras oblíquas ( / ), o que não faço com os exemplos de grafias em outras línguas. Infelizmente, cometi umas poucas imprecisões na hora de gravar o áudio, mas nada que afetasse a qualidade geral do conteúdo.
A chamada “língua servo-croata” foi a padronização de um dialeto do sérvio com a incorporação de traços de outras regiões da antiga Iugoslávia, como a Croácia e a Bósnia e Herzegóvina. Atualmente, com a desintegração do país comunista, cada país considera seu idioma como um próprio: croata, bósnio e sérvio (por vezes ainda, montenegrino), mas ainda integrados dentro de um chamado “diassistema” chamado “servo-croata” ou “BCS” – também chamado “língua policêntrica”, como o português (europeu e brasileiro) e o persa (iraniano, dari/afegão e tajique). Os alfabetos latino (latinica) e cirílico (ćirilica) eram intercambiáveis entre si, e até hoje se usam igualmente na Bósnia e em Montenegro. Mas na Sérvia, por sua tradição cristã ortodoxa, adota-se o cirílico (com o latino ganhando cada vez mais terreno), e na Croácia, dado o catolicismo, exclusivamente o latino.
Não tem aí nenhum som que não seja também encontrado, por exemplo, no croata, mas os dois padrões diferem consideravelmente no vocabulário e na sintaxe, além de terem algumas diferenças de pronúncia, como a ocorrência maior de “iê” (je/ije) na Croácia. Enquanto neste, por exemplo, fala-se svijet (luz), em sérvio se diz svet. Além disso, apesar da semelhança, não há um intercâmbio automático entre letras do cirílico e do latino, este possuindo vários dígrafos (duas letras pra um som). Espero que você aprenda algo com meu vídeo!
Seguem as traduções dos cinco textos/diálogos em cirílico. A fonte é o livro Serbo-Croatian for Foreigners, v. I, de Slavna Babić, reimpressão de 1991 da 2.ª edição de 1981. Não custa lembrar que os substantivos pátrios, assim como em inglês e ao contrário dos adjetivos, se escrevem com inicial maiúscula. Na primeira fase do livro, todos os personagens ainda se tratam por vi (2.ª pess. pl., tratamento formal), independente de suas relações:
1. – Eu sou iugoslavo, e você é inglês. Quem é iugoslavo? – Você é iugoslavo. – Eu sou iugoslava. Você é o quê? – Eu sou inglesa. – Quem é americana? – Rita.
2. – Bom dia, Natasha. Como vai? – Bem, obrigada. E você, como vai? – Bem. Como está seu marido? – Ele também está bem.
3. Este é Đorđe Marković. Ele é irmão de Marko. O irmão dele [de Marko] é mecânico. Quem é o irmão de Đorđe? Marko é o irmão dele.
4. Vera é irmã de Nada. Ela é uma mulher alta e bonita, mas é magra. O marido de Vera é um homem alto e bonito. A: O marido de Vera é gordo ou magro? B: Ele é magro. A: Você é alto e magro?
5. – De quem é este gorro? – Talvez seja de Vera ou de Branka. – Branka, este não é seu gorro? – Qual? – Este aqui. – Não é. – Ele é seu, Vera? – Ah, sim, é meu. Obrigada. – De nada.