Novamente estou dando um suporte pras traduções do antigo canal Pan-Eslavo Brasil, agora trazendo também as letras traduzidas em formato texto. Esta é a primeira leva de canções do grande intérprete francês Romuald Figuier, mais conhecido apenas como Romuald, nascido em 1938 na cidade bretã de Saint-Pol-de-Léon. Infelizmente, e não sei por quê, ele parece ter saído de evidência desde a década de 1980, inclusive na França, mesmo cantando lindamente e sendo até bem-afeiçoado. Na verdade, a única razão de eu o ter conhecido foi a descoberta ocasional da primeira música, Cœur de papillon (Coração de borboleta), uma versão francesa do célebre hino da ditadura militar brasileira, Eu te amo, meu Brasil, cantado pelos irmãos Eustáquio e Eduardo Gomes de Farias, a dupla Dom & Ravel. O assunto da letra, porém, é completamente diferente.
Seu compositor foi Dom/Eustáquio, e ela estourou na voz da banda Os Incríveis na década de 1970. A pegajosa melodia marcial também parece ter encantado os europeus, tanto que além desta letra escrita por um certo Stanislas Beldone, foi gravada uma segunda, Cœur de mon pays (Coração do meu país), pela banda Les Scarabées, que guarda muito mais semelhança com o original na letra e nos arranjos. Porém, faltam-me informações sobre o contato de Romuald com Eu te amo, meu Brasil ou mesmo com Dom & Ravel, mas sei que ele teve uma passagem pelo Brasil, talvez entre suas idas a festivais de música sul-americanos, como o de Viña del Mar, no Chile.
De fato, apesar de algumas de suas gravações serem realmente bonitas, era difícil achar um áudio de Cœur de papillon na internet além deste raro vídeo no Dailymotion. O primeiro vídeo autoral (áudio) no YouTube data somente de 2 de setembro de 2021... Cantor obscuro, música obscura, tanto que o compacto com a canção na faixa 1 e Comment vivre sans amour na faixa 2 não parece muito badalado. Tanto que só achei a letra numa das poucas páginas com informações e uma imagem decente da capa. Peço desculpas se algumas expressões ficaram mal traduzidas.
A segunda canção tem melodia muito emocionante, e curiosamente Romuald representou com ela o Principado de Mônaco no concurso musical Eurovision (Eurovisão) em 1974, ficando em 4.º lugar na classificação geral. Embora muitas línguas sejam faladas em Mônaco, a oficial ainda é o francês. O título é Celui qui reste et celui qui s’en va (Aquele que fica e aquele que vai embora), cuja letra foi escrita por Michel Jourdan e cuja melodia foi composta por Jean-Pierre Bourtayre. Ela saiu no mesmo ano num compacto de Romuald com o mesmo nome, junto com a canção Sur la pointe des pieds, sur la pointe du cœur (Na ponta dos pés, na ponta do coração), dos mesmos autores com o próprio Romuald. O cantor já tinha representado Mônaco no Eurovisão em 1964, e também Luxemburgo em 1969, sempre com letras em francês.
Parece óbvio, mas vale lembrar, segundo o verbete na Wikipédia em português, que Celui qui reste... parte da perspectiva de um homem deixado pela mulher, sempre havendo no fim de uma relação a “metade” que não quer se separar (“aquele que fica”). Afora esta observação, as outras informações são da Wikipédia em francês, que eu mesmo traduzi, assim como a letra, retirada deste site sempre útil. Não fui literal em alguns pontos, e inclusive optei por deixar “aquele” em todas as partes, mesmo podendo se pressupor um casal hétero (por que não podia ser homo?).
A terceira canção tem por título Où sont-elles passées ?, que não pode ser traduzido literalmente como Onde/Aonde elas passaram?, mas tem o sentido de O que terá sido delas? ou, mais informalmente, Onde elas foram (teriam ido) parar? Está questionando sobre o paradeiro de algo ou alguém, no caso os amores da juventude, porque com o passar da idade (segundo a Wikipédia em português), a alegria e o mistério dos primeiros romances não existem mais.
Seguindo agora com informação da Wikipédia francesa, Où sont-elles passées ? tem letra de Pierre Barouh e melodia de Francis Lai, tendo sido gravada por Romuald como single num compacto de 1964. No mesmo ano, ele concorreu ao Eurovision ocorrido em Copenhague, representando Mônaco, como foi o caso de 1974, como sabemos. Mas o desempenho tinha sido bem melhor, pois das 16 canções na disputa, terminou em terceiro lugar. Ao traduzir o original francês, não fui literal em boa parte das passagens, a começar pelo título, mas mantive o significado pretendido, com expressões mais correntes no português coloquial do Brasil e completamente entendíveis em toda a lusofonia.
E por fim, a quarta canção foi interpretada no Eurovision realizado em Madri, Espanha, em 29 de março de 1969. Chama-se Catherine e fala de um amor da infância que o homem adulto jamais esqueceu. Ela tem letra de André Pascal (André di Fusco) e melodia de Paul Mauriat e André Borly, e ficou apenas em 11.º lugar na disputa. Romuald, que desta vez representaria Luxemburgo como país (o francês é uma das línguas oficiais), também gravou a música em alemão, inglês e italiano.
A primeira gravação original saiu ainda em 1969, num EP com quatro canções, entre as quais Catherine era a primeira faixa. O processo de escolha interna em Luxemburgo foi produzido pelo canal Télé Luxembourg, e a regência da orquestra no concurso coube ao espanhol Augusto Algueró. A música foi logo a segunda a ser apresentada naquele 29 de março, após a da antiga Iugoslávia e antes da concorrente espanhola. Eu traduzi a partir deste texto, que porém não bate em alguns pontos com o áudio.
Cuidado com os falsos cognatos, pois jardin d’enfants em francês não significa “jardim de infância” escolar (maternal, Kindergarten), mas “parquinho” ou “playground”, espaço de brinquedos em geral aberto ao público nos centros urbanos. (Afinal, não faria sentido crianças de dez anos de idade ainda estarem no “jardim de infância”...) E não consegui uma tradução exata de tartine, um pedaço de pão cortado pela metade, ou uma fatia mesma de pão, sempre coberta de manteiga, margarina, maionese etc. e às vezes com temperos. Nossa realidade (Brasil) conhece mais “lanche” ou “sanduíche”, imprecisos demais, e “canapé” não é típico de crianças e em geral é pequeno. Virou “pãozinho” mesmo, podendo aludir ao próprio pão recheado ou a qualquer tipo de lanche rápido.
1. Meu coração está leve como borboleta Meu coração está leve como borboleta Refrão: 2. Meu coração está leve como borboleta Meu coração está colorido como um lampião (Refrão) 3. Meu coração está coberto de borboletas (Refrão) ____________________ 1. J’ai le cœur léger commme un papillon J’ai le cœur léger comme un papillon Refrain : 2. J’ai le cœur léger comme un papillon J’ai le cœur bariolé comme un lampion (Refrain) 3. J’ai le cœur affublé de papillons (Refrain) |
1. Quando um amor acaba, quem fica é o perdedor Refrão (2x): Aquele que fica e aquele que vai embora 2. Te entendo, devíamos chegar a esse ponto (Refrão 2x) Aquele que fica e aquele que vai embora... ____________________ 1. À la fin d’un amour, celui qui reste est le perdant Refrain (2x) : Celui qui reste et celui qui s’en va 2. Bien sûr je te comprends, il fallait en arriver là (Refrain 2x) Celui qui reste et celui qui s’en va... |
O que terá sido delas, que me fizeram acreditar Na rua carinhosamente ela pegava minha mão O que terá sido delas, que me fizeram acreditar O que terá sido delas, que me fizeram acreditar ____________________ Où sont-elles passées, celles qui m’ont fait croire Dans la rue tendrement elle prenait ma main Où sont-elles passées, celles qui m’ont fait croire Où sont-elles passées celles qui m’ont fait croire |
Catherine, Catherine, tínhamos dez anos E quando à noite o parquinho fechava Mesmo rindo, Catherine, eu tinha no coração Onde estão você e o príncipe encantado, Catherine, Catherine, no parquinho Catherine, Catherine, e apesar do tempo ____________________ Catherine, Catherine, nous avions dix ans Et quand la nuit refermait le jardin Si je riais Catherine, j’avais dans le cœur Où êtes-vous et le prince charmant Catherine, Catherine, au jardin d’enfants Catherine, Catherine et malgré le temps |