segunda-feira, 18 de junho de 2018

“Хай живе вільна Україна” (ucraniana)


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Esta linda canção folclórica ucraniana se chama “Хай живе вільна Україна” (Khai zhyve vilna Ukraina), Que viva a Ucrânia livre, e tem letra de Mykola Shaposhnyk e melodia de Iuri Marshtupa. Há quem diga, porém, que a letra é popular, e a melodia foi composta por Petro Protsko. Eu criei duas montagens legendadas com base em áudios diferentes que achei no YouTube: um mais devagar, de um ótimo canal que tem muito mais canções folclóricas eslavas, e outro mais rápido, de um canal que tem outros materiais sobre a Ucrânia atual.

Esta composição faz parte de um conjunto que não tem tradução e se chama em ucraniano povstanski pisni, isto é, músicas que num sentido amplo são dedicadas às lutas ucranianas de libertação nacional na primeira metade do século 20. Em sentido estrito, fazem parte do repertório do Exército Insurgente Ucraniano, força paramilitar fundada em 1942, de caráter nacionalista, que lutou contra soviéticos, nazistas, tchecos e poloneses, cometendo muitas atrocidades até 1954. Muitas das canções, como esta, são de caráter cossaco, e também eram cantadas pelos insurretos. Infelizmente, são associadas a banderistas e extremistas de então e da Ucrânia atual, mas nas montagens inseri figuras que fizessem associação neutra à cultura ucraniana.

Como diversas músicas populares, há variações na letra, e pra esta mesma são conhecidas outras estrofes, mas não as pesquisei, nem procurei áudios equivalentes. A primeira versão mais lenta é a mais conhecida e reproduzida, enquanto a segunda mais rápida se difere em apenas alguns versos ou inserção de palavras. Há muitos termos históricos que vale a pena explicar. “Tsarehrad”, nome arcaico que existe em russo e outras línguas eslavas, designava a cidade de Constantinopla, a capital do Império Bizantino, e depois do Império Otomano. Ela só seria renomeada Istambul em 1930, quando já tinha sido instaurada a república. Busurman ou busurmanin, em russo basurman, designava um estrangeiro ou inimigo em geral, sobretudo muçulmano, com quem o Império Russo sempre travou inúmeras guerras. Não se admirem com as penas capitais: pendurar alguém num gancho (pelas costelas), queimar vivo amarrado num pau (como na Inquisição) ou fritar com piche (algo repetido pelo Estado Islâmico).

Atenção ainda ao significado figurado de bilenky, diminutivo de bily (branco), indicando algo bom, gracioso, terno, agradável. A canção deve datar mais ou menos do século 20 mesmo, no máximo (se é mesmo popular) do século 19, por isso a tradução foi bem fácil, e a pronúncia, próxima do padrão, está bem clara. Um dos prováveis autores da melodia é Petro Mykolaiovych Protsko (n. 1929), regente do Coral Popular de Chernihiv de 1984 a 1986. Detém a condecoração de Artista de Honra da Ucrânia. Mas é mais certo que os autores sejam Mykola Danylovych Shaposhnyk (1934-2009, letra), escritor, jornalista e compositor, e Iuri Vasyliovych Marshtupa (n. 1951 ou 1952, melodia), famoso com seu irmão Vasyl pela difusão e preservação da cultura cossaca. Estes dois artistas são da cidade ucraniana de Cherkasy. No primeiro vídeo, quem está cantando e tocando é o conjunto Lvivski Muzyky, mas no segundo não foi possível identificar.

Eu copiei a letra ucraniana desta página, mas no vídeo original com a segunda versão, um comentarista apontou as mudanças, bem como transcreveu a fala inserida no meio. Eu mesmo traduzi direto do ucraniano, montei os vídeos e legendei. Coloquei legendas bilíngues, com a parte ucraniana transliterada conforme meu próprio sistema, pra conforto de vocês: vejam os vídeos duas vezes, lendo uma língua de cada vez! Seguem abaixo as duas legendagens, a letra em alfabeto cirílico e a tradução. As palavras inseridas na segunda versão, assim como os versos diferentes, estão entre colchetes, e ao final está o trecho falado no segundo áudio:





1. Як у Цареграді, славних козаченьків,
Вражі бусурмани, вішали на гак.
Глянувши востаннє на цей світ біленький,
У смертну годину козак мовив так:
[В останню хвилину козак мовив так:]

Приспів:
Хай живе, [хай] живе вільна Україна.
Хай живуть, [хай] живуть вічно козаки.
Хай цвіте, хай цвіте червона калина.
Нехай згинуть воріженьки на вічні віки.
Нехай згинуть воріженьки на вічні віки.

2. Як вороги кляті нас на кіл саджали,
Як живцем палили, у смолі пекли,
Козаки у ката життя не благали
Про долю країни думи їх були.
[Про долю Вкраїни думи їх були.]

(Приспів)

3. Хто живе на світі і хто жити буде,
Хто шляхи козацькі буде ще топтать,
Щоб буяла воля, щоб раділи люди, –
Дай, Бог, їм востаннє ці слова сказать:
[Дай, Бог, їм востаннє нам слово сказать:]

(Приспів)

Хай ніколи не побачить сонця той, хто зрадив Батьківщину, як Каїну, першому вбивці на землі, ніколи не було, нема і не буде прощення. Хай так і не буде прощення тим, хто заради лакомства проклятого, вбив у серці своїм волелюбний дух народу нашого, відцурався віри християнської!

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1. Quando em Constantinopla os inimigos muçulmanos
Penduravam em ganchos os gloriosos cossaquinhos,
Olhando pela última vez para esse mundinho bom
Na hora de morrer um cossaco falava assim:
[No minuto derradeiro um cossaco falava assim:]

Refrão:
Que viva, que viva a Ucrânia livre.
Que vivam, que vivam os cossacos para sempre.
Que floresça, floresça o viburno vermelho.
Que a corja inimiga pereça para a eternidade.
Que a corja inimiga pereça para a eternidade.

2. Quando malditos inimigos nos botavam em estacas,
Nos queimavam vivos, nos fritavam no piche,
Os cossacos não pediam ao carrasco pela vida,
Mas estavam pensando no destino de seu país.
[Mas estavam pensando no destino da Ucrânia.]

(Refrão)

3. A quem já está nascido, a quem virá ao mundo,
A quem ainda vai traçar as trilhas dos cossacos,
Pela liberdade vigorosa, pela felicidade do povo,
Deus permita exclamar estas últimas palavras:
[Deus permita exclamar a última palavra a nós:]

(Refrão)

Que nunca veja o Sol quem trair a Pátria, como Caim, o primeiro assassino da Terra, nunca teve, tem ou terá perdão. E que também não tenha perdão quem, por maldita avareza, matou em seu coração o espírito libertário de nosso povo e renegou a fé cristã!