segunda-feira, 10 de julho de 2023

Bordados de quando tinha 10 anos


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Hoje estou aproveitando pra trazer algo de cunho mais pessoal e inofensivo. Quando eu tinha 10 anos de idade e cursava o que então se chamava de “4.ª série do Primeiro Grau”, equivalente ao atual 5.º ano do Ensino Fundamental, fomos apresentados à obra de uma artista e escritora chamada Martha Dumont, que escrevia livros pra crianças e ilustrava com seus próprios desenhos feitos com a arte do bordado, ou bordava pra ilustrar livros infantis de outros escritores, alguns bem famosos, como Ziraldo e Rubem Alves. A Escola Viverde, onde passei toda minha infância e adolescência (dos 6 aos 17 anos de idade), tinha e ainda tem o grande mérito de oferecer uma educação integral, em que junto aos conteúdos tradicionais também se inseriam atividades lúdicas, contato com a natureza e desenvolvimento criativo, sobretudo artístico e esportivo. Não sei com quem Martha tinha ligação na escola, mas tendo sido ou não a convite dos donos da escola, a breve visita dela causou uma pequena “febre” de bordado entre a gente (meninas e meninos!), rs.

Certo dia, ela participou de uma roda de conversa com nossa classe no meio do campo de futebol (então ainda com grama viva!), pra falar de seus livros e responder a perguntas nossas, ao mesmo tempo em que ela mesma fazia diversos bordados. Uma lembrança esquisita que tenho daquela tarde de 1998 era que, em minha sensação, ela respondia longamente a perguntas feitas pelos coleguinhas, como se estivesse continuando a conversa. Eu então, em dado momento, não sei se tendo feito a questão de própria lavra ou sugerida por um adulto, perguntei: “Você gosta mais de escrever livros pra adultos ou pra crianças?” Educada, mas muito rapidamente, ela respondeu simplesmente: “Pra crianças.”

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É estranho que a aparente falta de atenção tenha me deixado um pouco desapontado, mas não me decepcionei, e realmente foi uma época muito boa em minha vida. Sem games (em meu caso, pelo menos), sem computador ou internet e mais ainda sem smartphone ou tablet, as diversões ao ar livre ou as ocupações manuais ainda tomavam boa parte do tempo de meus coetaneozinhos. Talvez por ainda ter tido um pé no mundo analógico e não ter sido jogado tão violentamente no digital (mãe e vó são pedagogas, e elas mesmas sempre também se embrulharam com tecnologia...), ainda mexo em teclados e celulares como se fosse um tiozão, e nunca me adaptei totalmente ao ritmo e humor das mídias sociais, conseguindo muito cedo ter formado uma consciência crítica e me desfeito de quase todas elas! Favorecia o fato da Viverde ter sido construída no espaço de um antigo sítio, e no meu caso, de morar num condomínio de chácaras perto da zona rural, com jardim amplo e nenhum incômodo urbano. E sem nenhum preconceito, com nossos pais tendo comprado tecidos especiais e novelos de lã, desenvolvemos uma habilidade que acredito que nenhum de nós (eu, inclusive) mantivemos: começamos a bordar de nossa própria cabeça diversos desenhos e figuras da vida real ou daquilo de que gostávamos.

Eu sempre gostei de retratos humanos e de paisagens, portanto são essas as figuras que você vai ver logo abaixo. Realmente, antes de entrar na universidade, desenvolvi diversos tipos de habilidade artística, favorecidos, sobretudo, pela criação parcial com minha avó, que é formada em Educação Artística e também deixou muitas pinturas, xilogravuras, desenhos e algumas esculturas no passado. Eu também gostava de desenhar, de mexer com aquarela e argila, aprendi flauta doce e teclado, e nessa época também consegui bordar algumas coisas palatáveis, curiosamente. Não tava no currículo, não era pra nota: era uma atividade paralela à qual também acabei me dedicando em casa, por opção sincera. (A célebre “quinta série”, obviamente, viria acabar com esse espírito artesanal, rs.)

Descobri que a Matizes Dumont, criada por Martha e sua família, tornou-se um empreendimento muito maior que não abrange apenas literatura e ilustrações sob encomenda, mas também o bordado como terapia, como forma de reunião entre pessoas, como formação profissional e muitas outras coisas. Fico feliz de coração que a ideia tenha ganhado tal vulto e que a Martha continue tão ativa e deixando tão bom legado: é aquela parte da “brasilidade”, sobretudo mineira, que me dá muito orgulho por sua simplicidade e muita nostalgia por causa do norte do estado de SP, onde vivo até hoje! Assim, como parte da revelação de minha vida pessoal, seguem os tecidos que guardei até hoje e que digitalizei: