domingo, 13 de março de 2016

Hino nacional da Checoslováquia (1918)


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Esta composição, que serviu como hino da Checoslováquia durante toda a sua existência (de 1918 a 1993, e desde 1945 como país socialista), na verdade é a junção de duas canções populares: a checa Kde domov můj (Onde é meu lar?) e a eslovaca Nad Tatrou sa blýska (Sobre os Tatras fulguram).

A canção Kde domov můj teve a melodia composta por František Škroup e a letra escrita por Josef Kajetán Tyl em 1834, e era originariamente parte da trilha sonora de uma comédia. A canção, porém, ficou muito popular entre os checos, que a consideraram um hino nacional informal ante o domínio austro-húngaro.

A canção Nad Tatrou sa blýska teve a letra escrita pelo jovem estudante Janko Matúška em 1844, sobre a melodia da canção popular Kopala studienku. A canção, que originalmente tem uma segunda estrofe adicional, ficou popular entre outros estudantes nacionalistas, bem como em outros eventos de autoafirmação. Os Tatras são uma cadeia montanhosa que para os eslovacos é considerada o símbolo do país.

O hino da Checoslováquia, adotado em 1918, é a junção das canções checa e eslovaca citadas, portanto é um hino bilíngue, mas da canção Nad Tatrou sa blýska se emprega apenas a primeira estrofe. Em 1993, com a divisão do país em República Checa e Eslováquia, cada parte do hino checoslovaco passou a ser o hino de cada país, e o hino eslovaco incorporou a segunda estrofe esquecida. Até 1993, na parte eslovaca, também se usava o verso Zastavme sa, bratia (Vamos esperar, irmãos), que aparece no vídeo, mas depois se passou a usar Zastavme ich, bratia (Vamos pará-los, irmãos).

Eu traduzi as duas canções a partir de versões em diversas línguas que achei na Wikipédia, e depois, pra postar no meu antigo canal do YouTube, legendei o vídeo que baixei daqui. Após as legendas, estão por escrito a primeira estrofe em checo e a segunda em eslovaco, seguidas da tradução.

Adendo (9/11/2025): Hoje trouxe aqui uma curiosidade, da qual eu não tinha me dado conta mais de 9 anos e meio atrás! Como a população alemã da Checoslováquia era muito grande (os chamados “alemães da Boêmia”, nome histórico da região oeste da Chéquia), também foi oficial de 1918 a 1938 (desmembramento do país) uma tradução poética em alemão do hino; de 1939 a 1945, sob a ocupação nazista, os hinos originais e em alemão se bipartiram pra cada região. Conforme as primeiras estrofes, os nomes de cada parte são Wo ist mein Heim? (Onde é meu lar?) e Ob der Tatra blitzt es (Sobre os Tatras fulgura), traduzidas pelo poeta e letrista popular Wenzel Karl Ernst (1830-1910). Há também versões em húngaro, mas decidi não pesquisar.

Focando agora no alemão, parece estranho que Ernst morreu em 1910 e a Checoslováquia nasceu em 1918. Na verdade, enquanto súdito do então Império Austro-Húngaro, ele nasceu na região histórica da Boêmia, morreu em Viena e foi também um revolucionário próximo de Mikhail Bakunin. Na prisão, aprendeu checo e, após ser indultado, liderou um grupo de tradutores de obras checas e eslovacas pro alemão. Na Wikipédia alemã não há menção explícita, mas deve ter sido na segunda metade do século 19 que Ernst traduziu ou apenas as canções (que já eram populares), ou as peças de que foram extraídas: não pude verificar com exatidão.

Josef Wenzig (1807-1876), nascido em Praga e também alemão, era outro escritor e libretista que traduziu obras checas e eslovacas pro alemão e lutou pela igualdade da língua checa com a alemã no ensino básico. Ele fez sua própria tradução poética de Kde domov můj? pro alemão (também não está claro se apenas da canção ou da peça toda), mas o governo checoslovaco escolheu as traduções de W. K. Ernst como oficiais em 1918. Após o original em checo e eslovaco, inseri as traduções poéticas em alemão (hoje sem valor oficial) e minha tradução literal dessas versões poéticas:



Eis aqui outras duas belas execuções do antigo hino ainda unido da Checoslováquia. A primeira é a execução instrumental da banda militar do Exército comunista, nos 40 anos da vitória sobre os alemães, em 1985, separada da execução do hino soviético que veio logo depois. A segunda é uma improvisação vocal do poeta e compositor Karel Kryl (de bigode) e do cantor Karel Gott, ambos checos, durante a Revolução de Veludo, em novembro de 1989. Na sacada do prédio que então pertencia à editora Melantrich e hoje abriga um hotel de luxo, foram feitos então vários discursos contra o poder, ao povo que se reunia nos comícios na praça Václav (Venceslau), centro de Praga:




Kde domov můj, kde domov můj?
Voda hučí po lučinách,
bory šumí po skalinách,
v sadě skví se jara květ,
zemský ráj to na pohled!
A to je ta krásná země,
země česká domov můj,
země česká domov můj!

Nad Tatrou sa blýska,
Hromy divo bijú,
Nad Tatrou sa blýska,
Hromy divo bijú.
Zastavme sa, bratia,
Ved’ sa ony stratia,
Slováci ožijú.
Zastavme sa, bratia,
Ved’ sa ony stratia,
Slováci ožijú.

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Onde é meu lar, onde é meu lar?
A água murmura pelos prados,
pinheiros chiam nos rochedos,
a flor primaveril reluz no jardim,
parece o Paraíso na Terra!
E esta linda terra,
é a terra checa, meu lar,
é a terra checa, meu lar!

Sobre os Tatras fulguram
E batem forte os trovões,
Sobre os Tatras fulguram
E batem forte os trovões,
Vamos esperar, irmãos,
Porque eles vão cessar
E os eslovacos renascerão.
Vamos esperar, irmãos,
Porque eles vão cessar
E os eslovacos renascerão.

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Wo ist mein Heim, mein Vaterland,
Wo durch Wiesen Bäche brausen,
Wo auf Felsen Wälder sausen,
Wo ein Eden uns entzückt,
Wenn der Lenz die Fluren schmückt:
Dieses Land, so schön vor allen,
Böhmen ist mein Heimatland.
Böhmen ist mein Heimatland.

Ob der Tatra blitzt es,
dröhnt des Donners Krachen.
Ob der Tatra blitzt es,
dröhnt des Donners Krachen.
Doch der Stürme Wehen,
wird gar bald vergehen,
Brüder, wir erwachen!
Doch der Stürme Wehen,
wird gar bald vergehen,
Brüder, wir erwachen!

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Onde é meu lar, minha pátria,
Onde os riachos murmuram pelos prados,
Onde as florestas chiam sobre os rochedos,
Onde um Éden [i.e. Paraíso] nos deleita
Quando a primavera enfeita os campos:
Esta terra em que tudo é tão bonito
É a Boêmia, minha terra natal.
É a Boêmia, minha terra natal.

Sobre os Tatras fulgura,
ruge o estouro do trovão.
Sobre os Tatras fulgura,
ruge o estouro do trovão.
Mas o sopro das tempestades
logo vai realmente passar,
e nós, irmãos, vamos despertar!
Mas o sopro das tempestades
logo vai realmente passar,
e nós, irmãos, vamos despertar!


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